Greta Thunberg escolhida "Personalidade do Ano” pela revista Time
- Sofia Matos Silva
- 12 de dez. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 13 de jan. de 2020
Greta Thunberg é a personalidade mais jovem de sempre escolhida pela Time. A fotografia para a capa da revista foi tirada em Portugal, numa praia de Lisboa.

A jovem sueca foi escolhida pela revista Time como “Personalidade do Ano”. Apesar de a publicação norte-americana ter um longo histórico de reconhecimento atribuído a jovens, a escolha dos editores nunca antes tinha recaído sobre uma adolescente.
O anúncio foi feito ontem através da plataforma online da revista. A fotografia da capa foi igualmente divulgada, bem como a história por trás da captura de Evgenia Arbugaeva.
Edward Felsenthal, Editor-Chefe da Time, justifica a escolha referindo que “este foi o ano em que a crise climática passou de trás das cortinas para o centro do palco, de ruído político ambiental diretamente para a agenda do mundo, e ninguém fez mais para que isso acontecesse do que Thunberg”.
A escolha
“Por fazer soar o alarme sobre a relação predatória da humanidade com a única casa que temos, por trazer para um mundo fragmentado uma voz que transcende experiências e fronteiras, por nos mostrar tudo o que o mundo poderá ser quando uma nova geração liderar”; estes são alguns dos aspetos apontados por Felsenthal que, na opinião dos editores da revista, atribuem tanto mérito à ativista de 16 anos.
Que Greta seja a mais jovem alguma vez escolhida para “Personalidade do Ano” diz tanto sobre o momento como diz sobre ela. A jovem ativista começou a sua greve estudantil em agosto de 2018. Desde essa altura, já inspirou e liderou dezenas de protestos pela Europa fora. Em setembro, 7 milhões de pessoas saíram à rua, num manifesto coletivo mundial. Greta tornou-se a “maior voz no assunto mais importante que o planeta enfrenta”.

Certamente, a voz da ativista sueca ecoou por todos os países do mundo no dia 21 de setembro, dia em que discursou para os líderes mais poderosos do mundo presentes na Cimeira para a Ação Climática das Nações Unidas. Para além da expressão “Como se atrevem?”, que se tornou quase instantaneamente num símbolo da luta climática, algumas das suas frases mais sonantes foram as que escolheu para fechar o discurso. “Vocês estão a falhar connosco. Mas os jovens estão a começar a entender a vossa traição. Os olhos de todas as gerações futuras estão sobre vocês. E se optarem por nos falhar, eu digo: nunca vos vamos perdoar. Não vos vamos deixar você fugir com isso. Aqui, agora, é onde desenhamos a linha. O mundo está a acordar. E a mudança está a chegar, quer vocês gostem ou não”.
No texto publicado, o Editor-Chefe da Time relata, ainda, uma narrativa que podia parecer referir-se a duas pessoas bem distintas, não fosse o caso de o percurso de Greta ser tão invulgar.
“Tudo começou com uma história familiar a todos os pais de todas as gerações em todos os cantos do globo: uma adolescente indignada e uma explosão súbita de rebelião. Tornou-se uma das subidas mais improváveis e, certamente, uma das mais rápidas, à influência global na história. Ao longo de pouco mais de um ano, uma jovem de 16 anos de Estocolmo passou de um protesto solitário sobre os paralelepípedos fora do Parlamento do seu país, para liderar um movimento mundial de jovens; de uma estudante conjugando verbos na aula de Francês para reuniões com o Secretário-Geral das Nações Unidas e receber audiências com presidentes e o Papa; de uma manifestante sozinha com um slogan pintado à mão (Skolstrejk för Klimatet) para inspirar milhões de pessoas em mais de 150 países a ocupar as ruas em nome do planeta que partilhamos”.
Numa altura em que jovens de inúmeros países do mundo estão a marchar pelos seus direitos, por aquilo em que acreditam e por se recusarem a aceitar o que as entidades no poder lhes impõe, o choque de gerações nunca foi tão drástico. A luta ambiental não é nova, mas ganhou um novo fôlego com a ação de Greta e de todos os outros jovens ativistas que, nos respetivos países, inspiraram milhões à sua volta a fazer o mesmo.

A fotografia e o acompanhamento de Greta até Madrid
Evgenia Arbugaeva foi a escolhida pela Time para capturar o instante eternizado na capa da revista. A fotógrafa russa explicou que o seu maior desafio foi perceber como conseguir “um retrato que combine gentileza e, ao mesmo tempo, coragem. Como capturar o olhar intenso, focado tanto no interior como no exterior o que eu sinto ser característico da Greta”, admitindo que “não foi uma tarefa fácil."
O fim da travessia de Greta pelo Atlântico terminou em Lisboa. Mas Arbugaeva adiantou-se à sueca, tendo chegado uns dias antes a Portugal com o objetivo de encontrar o local com o cenário perfeito para a fotografia. A escolha acabou por recair sobre uma pequena praia de pescadores nos arredores da capital.
Arbugaeva conta que "enquanto ela pousava para a fotografia, o céu coloriu-se de um rosa dourado criando uma luz bela, a maré do oceano subia e as ondas batiam em seu redor. A Greta manteve-se alta e forte sem se mover, apenas com alguns dos fios do seu cabelo vibrando com a brisa suave. Ela olhou diretamente para o oceano que tinha acabado de atravessar. Nesse momento, parecia que todos os elementos e forças da natureza se tinham alinhado para criar a magia, o presente mais precioso para um fotógrafo."
Ainda nos Estados Unidos em meados de novembro, Greta tinha dito à Time que só “gostava de poder dizer aos meus netos que fizemos tudo o que podíamos e que fizemos isso por eles e para as gerações futuras". Nessa altura, a jovem preparava-se para embarcar no veleiro. Agora na Europa, os jornalistas da Time voltaram a acompanhar Greta – desta vez, na sua viagem até Madrid. Isto porque a luta pelo clima nunca acaba, e neste momento a sueca já se juntou aos milhares que marcham em redor da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 25) – uma contra-cimeira à Cimeira. A longa reportagem resultante deste acompanhamento antes e depois da travessia oceânica foi publicada no número da Time.
Fotografias: Evgenia Arbugaeva | TIME
As reações
A escolha de Greta para “Personalidade do Ano” tem sido amplamente bem-recebida pela comunidade internacional, sendo diversas as declarações de felicitação à jovem ativista. No entanto, também houve alguns egos feridos.
Há dois dias, Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil, havia usado o termo “pirralha” para se referir a Greta. O político brasileiro não ficou contente com as declarações da jovem na rede social Twitter, onde afirmou que “os povos indígenas estão literalmente a ser assassinados por tentar proteger a floresta da desflorestação ilegal. Repetidamente. É vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre isso". Assim, o chefe de Estado declarou aos jornalistas em Brasília que "a Greta já disse que os índios morreram porque estavam a defender a Amazónia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Pirralha". A isto, Greta respondeu mudando a descrição da sua conta no Twitter para, precisamente, “pirralha”.
Agora, foi a vez de Donald Trump se envolver na polémica – mais uma vez.
Em reação à escolha da Time, o Presidente dos Estados Unidos publicou um tweet com as frases “Tão ridículo. A Greta tem de trabalhar no seu problema de controlo de raiva e depois e ir ver um bom filme antigo com um amigo! Relaxa, Greta, relaxa!”. Com isto, a ativista resolveu mudar novamente a descrição da sua conta. Nesta, pode ler-se “Uma adolescente a trabalhar no seu problema de controlo da raiva. Atualmente a relaxar e a assistir a um bom filme antiquado com um amigo”.
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