Os estudantes e a emergência climática. Um objetivo, muitas soluções
- Ponto e Vírgula
- 16 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Da sala de aula para a rua, os estudantes universitários aderiram em massa à Greve Climática de setembro. As gerações mais novas querem inverter o ciclo vicioso no qual o Planeta se encontra. É uma verdadeira luta contra o tempo para salvar o futuro.

A FCUP não é a única instituição com estudantes preocupados com o ambiente. O Ponto e Vírgula realizou um inquérito pelas diferentes faculdades da Universidade do Porto e que contou com mais de 400 respostas, com o objetivo de perceber como a comunidade académica encara as alterações climáticas.
O dado mais consensual é mesmo a preocupação pela problemática. 96,1% dos inquiridos diz-se alarmado pelas alterações climáticas. Isso reflete-se em hábitos ecológicos: 84,7% afirma que recicla e 89,6% tenta reduzir o consumo de plástico no dia a dia. No que toca a mudanças mais radicais, 85,4% estaria aberto a alterar o estilo de vida para beneficiar o Ambiente.
Em sentido inverso estão as preocupações relativas ao vestuário. 54,9% não tem em conta os materiais da roupa que usa. 78,5% afirma que não costuma participar em palestras ou workshops sobre o tema das alterações climáticas. Apesar da Greve Climática atrair muitos estudantes, só 16% dos inquiridos diz ter participado numa.
No que toca às faculdades onde se inserem, 60,9% dos estudantes inquiridos não considera que o seu local de ensino esteja a adotar as medidas necessárias para combater as alterações climáticas. De uma forma muito mais consensual, 94,7% confirma a presença de plásticos nas faculdades.
As sugestões para o que as faculdades podiam fazer variam, mas uma das mais referidas é a “criação de ecopontos” ou locais semelhantes que facilitem a reciclagem. Outra das principais ideias é a redução do plástico, se bem que haja consciência de que a “despesa da faculdade” pode aumentar.

A redução da carne a favor de opções vegetarianas é um dos pontos mais repetidos. A eficiência energética é outra preocupação dos estudantes, mas não há nenhuma linha de pensamento concreta em como o alcançar. A forma de implementação das propostas varia entre o mais moderado, defendendo alterações graduais e “medidas dia a dia”, e posições mais extremadas que levem à adoção de “políticas e leis mais severas”.
Em relação aos órgãos de soberania, 79,4% dos estudantes não os consideram estar à altura de lidar com as alterações climáticas. Os inquiridos, de novo, variam nas sugestões para o que os órgãos de soberania deveriam fazer. As diferentes opções ideológicas implicam ideias diferentes.
A redução do consumo de carne e de plástico também é responsabilidade do Governo, segundo os estudantes. O aumento do preço de gasolina e os impostos sobre os gases com efeito de estufa são outra sugestão. O Primeiro-Ministro ainda recentemente defendeu no Parlamento os impostos indiretos sobre o combustível fóssil.
Um dos inquiridos aponta que “qualquer medida pró-ambiente, será, no curto prazo, muito impopular” e, por isso, os órgãos de soberania devem “dar às pessoas uma visão de como será o planeta com o clima degradado, talvez assim elas se preocupem mais”. É necessário colocar o país “em alerta face às alterações climáticas”, segundo vários estudantes.
Nem todos partilham da mesma visão. Uma resposta crítica diz que se deve “impedir que a religião de extrema-esquerda” faça lavagem cerebral aos alunos, pois pode “criar um medo de uma potencial catástrofe climática cuja ciência está longe de ser consensual”. É, no entanto, de notar que a comunidade científica concorda na sua maioria que existe uma crise ambiental. A energia nuclear é considerada pelo inquirido como uma alternativa eficaz às mudanças na alimentação.
Há ainda apelos à calma e bom senso, pois é preciso ter em conta que a “sociedade tem diferentes pensares e formas de encarar os problemas”. A descarbonização da economia, já traçada como meta deste executivo, é também parte da solução para os estudantes. Carros elétricos, prospeção de lítio, fim da produção de combustíveis fósseis.
O consenso da comunidade académica é que ainda há muito a fazer. A luta principal é contra os danos do ambiente, mas também se deve contabilizar a luta contra o tempo. É esse temporizador imparável que preocupa, sobretudo, os estudantes. Está na hora de agir.

Esta é a quinta parte da Grande Reportagem “Os estudantes e a emergência climática: Uma luta contra o tempo”, um trabalho conjunto dos redatores João Malheiro, Sofia Matos Silva e Tiago Serra Cunha.
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