Os estudantes e a emergência climática. Uma luta contra o tempo
- Ponto e Vírgula
- 16 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de jan. de 2020
Da sala de aula para a rua, os estudantes universitários aderiram em massa à Greve Climática de setembro. As gerações mais novas querem inverter o ciclo vicioso no qual o Planeta se encontra. É uma verdadeira luta contra o tempo para salvar o futuro.

23 de setembro de 2019. Greta Thunberg, uma rapariga sueca de 16 anos, não está nas aulas, mas sim na Cimeira pela Ação Climática das Nações Unidas, em Nova Iorque. António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, estão entre as figuras políticas que ouvem o discurso da jovem Greta. A intervenção é forte e incisiva, os media propagam-na por toda a parte. O mundo começa a dar mais atenção às palavras de Greta Thunberg, à crise climática e ao que tem de ser feito - ou não - para resolver o problema.
Na sexta-feira da mesma semana, dia 27, realiza-se a Greve Climática em Portugal, tal como um pouco por todo o globo. Estudantes e jovens adultos são as figuras principais das manifestações que pretendem alertar para o perigo das alterações climáticas e que exigem soluções para as mesmas.
Pelas seis da tarde, a Praça da República é uma mancha de cartazes e expressões determinadas, que cantam a uma só voz e com um só propósito: lutar pelo futuro do Planeta. O Porto mobilizou-se e algumas das principais ruas da cidade pararam no tempo, de forma a abrir espaço para que a luta contra o tempo consiga passar. A expectativa paira no ar, o entusiasmo que só grandes ajuntamentos de pessoas movidos por uma causa comum consegue criar.
A Greve avança e a adrenalina flui pelas veias. Desde os mais novos até aos mais idosos, todos marcham e todos berram, exibindo expressões de fervor no rosto, esperando que um dia tudo isto tenha valido a pena.

Salomé, de 19 anos, acha que “a dar passinhos pequeninos, conseguimos chegar bem longe”. Considera que “os obstáculos estão mais na nossa cabeça do que propriamente no nosso dia a dia. Acaba por ser muito fácil, é uma questão de pesquisarmos – pesquisar bem, para não correr riscos -, de nos adaptarmos e de mudar mentalidades”.
Outra estudante universitária relembra que “desde sempre que ouvimos nas escolas a falar da crise climática - quer dizer, nem sequer é lida como uma crise. Mas, relativamente ao aquecimento global, cada vez mais se está a tornar mais óbvio que vai ter consequências sérias e muito mais rápidas do que aquilo que se estava à espera. Acho que, enquanto juventude, enquanto cidadãos, é o nosso dever chamarmos a atenção às classes políticas para isso”.
A maior parte dos jovens presentes na Greve Climática diz estar habituada a reciclar, a evitar o uso de plásticos, a poupar o consumo de água e de eletricidade. Alguns vão mais longe e dizem ter optado pela alimentação vegan. Inês Fogageira aponta um aspeto bastante particular. “Substitui os pensos e os tampões por um copo menstrual. Não senti nenhuma dificuldade; aliás, recomendo a toda a gente. É um copo que vos dura 10 anos - são 10 anos em que poupam dinheiro e em que poupam o ambiente”.
Mas os estudantes universitários não são os únicos presentes neste dia. João Silveira, com 16 anos, conta que na sua escola secundária, em Rio Tinto, “ainda hoje o Clube de Ciência Viva teve várias iniciativas, como passar o filme do DiCaprio - o ‘Ice on Fire’ - e outras atividades, para promover este dia”.
A luta pelo planeta não escapa nem aos mais pequenos. Sara, Inês, Maria e Sara têm entre 9 e 11 anos. As quatro meninas prometem que reciclam, que não desperdiçam água e que tentam comprar menos coisas embaladas. “É fácil, se quisermos. Mas é muito difícil comunicarmos com toda a gente ao mesmo tempo.” No fim, afirmam orgulhosamente que a sua turma é “a única da escola que faz reciclagem. E recolhemos tampinhas”.

Esta é a primeira parte da Grande Reportagem “Os estudantes e a emergência climática: Uma luta contra o tempo”, um trabalho conjunto dos redatores João Malheiro, Sofia Matos Silva e Tiago Serra Cunha.
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