"Sim, Somos Capazes" faz jovens com necessidades especiais sonhar mais alto
- Tiago Serra Cunha
- 3 de dez. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de dez. de 2019
O projeto, desenvolvido pelo Agrupamento de Escolas de Canelas, em Vila Nova de Gaia, acolhe jovens com necessidades educativas especiais e forma-os para a sua integração no mercado de trabalho local.

São inúmeros os casos de alunos que, pelas suas limitações, ficam de fora na fotografia que pretende captar um ensino digno e correspondente às suas necessidades. Aqui, pelo contrário, são mesmo eles os protagonistas de um projeto que pretende levar estes jovens mais além e sonhar para lá do que outrora achavam possível.
A iniciativa Sim, Somos Capazes nasceu em 2017 na Escola Básica e Secundária de Canelas, em Vila Nova de Gaia. Inicialmente com um pequeno grupo de alunos, os docentes de educação especial do agrupamento viram-se com uma questão preponderante em mãos: o que iriam fazer estes jovens depois de terminar a escolaridade obrigatória, sem qualquer apoio do mundo exterior?
Foi assim que surgiu um projeto que, se era inicialmente pequeno em dimensão e meios, era já muito grande em ambição de se tornar uma haste da promoção de inovação social para jovens com necessidades – ou, como lhes chamam, capacidades – especiais.
Hoje, a história é outra. E quem a sabe contar melhor desde o início é Pedro Durães. Aos 22 anos, o jovem é um dos rostos mais conhecidos deste projeto. Depois de passar pelo ensino regular especializado, em que dividia o seu tempo escolar entre colegas de longa data e as aulas de ensino vocacionado para as suas necessidades, a Trissomia 21 não é uma limitação no trabalho por um futuro melhor.
Em visões de sonhos que já faz por cumprir, Pedro diz que quer “ser pasteleiro e fazer bolos caseiros”. Um trabalho que é, na verdade, uma paixão, já a ser desenvolvida neste projeto. Uma das principais atividades do Sim, Somos Capazes é a gestão de um café, em que os jovens aprendem a cozinhar, a gerir dinheiro e a atender quem por lá passa; é aqui, no Sim Café, que Pedro tem algumas das suas obras mais criativas no mundo da cozinha a serem vendidas.

Pedro sabe que aqui é feliz. “Gosto de ajudar, de estar com os meus colegas de trabalho mais próximos”. Com todas as palavras, afirma que a sua vida mudou desde que é parte ativa deste projeto, ao fazer “pequenas coisas boas” para que todos fiquem a conhecer melhor aquilo que ele e os seus amigos são verdadeiramente capazes. “Sou feliz, sei fazer estes colegas contentes e somos capazes de trabalhar em equipa”, diz, de sorriso na cara.
Mas Pedro não é o único. Aos poucos, juntaram-se outros rostos, que formam aquilo que o Sim, Somos Capazes é atualmente. As limitações motoras ou cognitivas são, na verdade, o seu superpoder. A Filipa, a Sara, o Jorge, o João, o outro Pedro ou o Márcio têm diferentes tarefas preferidas, mas acabam por experimentar de tudo um pouco. Aqui, são prestados serviços úteis à comunidade em que se inserem, que passam pela jardinagem, restauro, limpeza, cozinha ou o tratamento de animais, que geram competências, união e vitalidade a estes jovens.
Luís Baião, um dos professores orientadores do projeto, é a força por trás de todos estes capazes. O professor de ensino especial dedica-se inteiramente à iniciativa, contando com o apoio de outros docentes e profissionais da Escola de Canelas. Os dinamizadores querem contrariar a falta de oferta de emprego para os jovens portadores de deficiência, integrando-os através “do trabalho, da criatividade e da colaboração”, explica. Pretende-se, assim, descobrir os seus valores e aquilo em que podem inovar.
Além de todas as tarefas de potenciação de trabalho e escolaridade, há também espaço para o lazer e o reforço de talentos. É aqui que A Banda Sem Nome (Ainda) entra em cena, um dos projetos mais queridos pela comunidade escolar e local, que já começa a dar frutos fora das portas do estabelecimento de ensino. O objetivo é dar uma vida musical a obras de grandes autores portugueses, aliando a aprendizagem e aumento cultural à diversão e prazer por aprender uma nova capacidade.

Todas as atividades atuam em conjunto para que as capacidades de todos os integrantes do projeto sejam potenciadas ao máximo e se preparem para, no futuro, ingressar no mercado de trabalho. “Aqui estamos a desenvolver-lhes competências, mas o objetivo não é que fiquem aqui para a vida toda”, esclarece Luís Baião. Pretende-se que as capacidades sejam criadas e, mais tarde, possam “voar” a solo no caminho rumo à vida adulta.
“Depois das competências estarem criadas, temos de começar a procurar na comunidade – porque Canelas é um sitio com muita indústria e empresas – uma colocação para eles e tentar arranjar um programa onde fiquem enquadrados”, explica o professor.
No entanto, apesar de ter nascido dentro da escola, o projeto teve de se associar à Associação Desportiva e Cultural de Santa Isabel, uma instituição particular de solidariedade social da região, para se poder candidatar a fundos e apoios que ajudam o projeto a expandir-se.
O apoio da comunidade, que “nos adoram e tratam muito bem”, é essencial, mas, em termos empresariais, ainda há trabalho a fazer. “Estamos a lutar por financiamento, concorrendo a vários modelos, para conseguirmos ter funcionários a trabalhar connosco”, porque, até ao momento, todo o trabalho é voluntário. O objetivo é criar-se projetos de empreendedorismo, até em conjunto com as famílias dos alunos que integram o Sim, Somos Capazes, criando uma incubadora de meios que possibilitem a sua inserção no mercado de trabalho.
Para o futuro, os capazes esperam continuar com os trabalhos de desenvolvimento de competências, através da escolaridade, trabalho, lazer e potenciação de talentos, continuando a promover um projeto com preocupações sociais, ambientais e económicas, que procura “ser autossuficiente e dar apoio à comunidade”.
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