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Os estudantes e a emergência climática. A “Caixa de Pandora”

Atualizado: 17 de jan. de 2020

Da sala de aula para a rua, os estudantes universitários aderiram em massa à Greve Climática de setembro. As gerações mais novas querem inverter o ciclo vicioso no qual o Planeta se encontra. É uma verdadeira luta contra o tempo para salvar o futuro.

Fotografia: Sofia Matos Silva

Afinal, o alarido das gerações mais novas é justificado? Estamos mesmo a viver uma crise climática? Para Nuno Formigo, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a resposta é afirmativa. O diretor do departamento de Biologia da FCUP considera que vivemos numa “situação de muita imprevisibilidade”, consequência das alterações climáticas. Os “padrões desaparecem e há uma frequência muito maior de eventos extremos”, explica o professor.


Que eventos são estes? De acordo com a NASA, os cinco anos mais quentes desde que há registo aconteceram depois de 2010. O ano mais quente da história foi 2016 e oito dos seus doze meses alcançaram recordes respetivos de temperatura.


Glaciares estão a derreter, os níveis do mar estão a subir e há vagas de calor mais intensas e duradouras. O Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas prevê aumentos de temperatura para além deste século. A NASA espera que os padrões de precipitação continuem a aumentar e aconteçam até em regiões onde não é comum chover.


Simultaneamente, haverá mais secas devido a ondas de calor exacerbadas. No final do século, espera-se que dias de calor extremo que aconteciam de 20 em 20 anos nos Estados Unidos, comecem a acontecer de dois em dois anos. Mais drástica é a previsão da NASA de que o Ártico fique sem gelo, um processo que já está a ocorrer a uma velocidade assinalável.


A atualidade dos últimos dias tem sido marcada pelos incêndios na Austrália. Os fogos levaram as autoridades a classificar esta vaga como a pior que já havia sido registada em território australiano. Arderam milhões de hectares de terra, num número superior a toda a área florestal portuguesa agregada. Foram destruídas mais de 1300 casas, morreram 25 pessoas e cerca de 500 milhões de animais. A ONU considera que as alterações climáticas são a principal causa.

Fotografia: Sofia Matos Silva

Os danos ambientais são irreversíveis para Nuno Formigo: “já abrimos a caixa de Pandora, o mal está feito”. Ainda vamos a tempo de diminuir o ritmo das alterações, mas não de as parar. “Não é possível pensar que vamos voltar atrás”, reforça.


Então, e que soluções podem mitigar os efeitos dessas alterações climáticas? A mudança de hábitos como o consumo de carne, eficiência energética e a redução do plástico são fundamentais. “Estamos sempre à espera de passos globais, mas isso não existe. As coisas vão se fazendo aos pouquinhos”.


É uma mudança social, cultural e, também, política, segundo o professor. Sobre as recentes eleições legislativas, Nuno Formigo admite uma transversalidade das questões ambientais a todos os partidos, pois é um “tema a qual nenhum político pode fugir”.


No entanto, as “opções ideológicas” implicam métodos diferentes de combate à crise climática: “Aplicar soluções para as alterações climáticas tem impactos sociais muito severos”, explica o professor da FCUP. Os padrões de consumo terão de ser necessariamente alterados, o que poderá implicar uma “regressão” na qualidade de vida.


As pessoas têm de fazer opções no imediato, com base na promessa que isso vai ajudar o planeta no médio e longo prazo. Isto é difícil de jogar em política, porque a política faz-se no curto prazo”, conclui Nuno Formigo.

Fotografia: Sofia Matos Silva

Esta é a segunda parte da Grande Reportagem “Os estudantes e a emergência climática: Uma luta contra o tempo”, um trabalho conjunto dos redatores João Malheiro, Sofia Matos Silva e Tiago Serra Cunha.

Para consultar a terceira parte, clique aqui.

Para consultar a primeira parte, clique aqui.

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