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A verdade do Editorial

Assinar um editorial ou apresentar um jornal com a total ausência do mesmo impossibilita ao leitor compreender o seu juízo institucional. Ninguém é inocente. Todos os editores têm posições ideológicas e isso reflete-se na redação e no conteúdo que ela produz.

O editorial já não é o mesmo. Este artigo está a tornar-se uma espécie rara no jornalismo português. O valor da sua essência tem perdido importância com o tempo devido, ou a um mau uso, ou ausência total do mesmo.


Vamos começar pelo básico: o que é um editorial? Trata-se de um artigo jornalístico que explica, valora e julga um facto noticioso. É um texto que fala em nome do jornal e de quem integra a sua redação. Como teorizou Albertos, é um "juízo coletivo e institucional" que revela a postura ideológica do respetivo orgão de comunicação social.


Pode parece uma constatação óbvia de um facto, mas a maioria dos jornais portugueses não seguem esta definição. Existem, geralmente, dois tipos de erros. Ou um jornal apresenta um editorial que serve de índice para os conteúdos a serem abordados nessa edição, ou classifica a opinião assinada de um editor como sendo um editorial.


Usar um editorial como listagem de conteúdos está errado, por retirar, naturalmente, duas das características mais importantes do editorial - a tomada de posição e o destaque de um tema particularmente importante.


O outro erro ainda é pior. Classificar de editorial a opinião assinada por um membro do jornal, por mais alto que seja o seu cargo, é uma quebra do seu propósito. O editorial é uma posição conjunta de toda a redação, uma marca da identidade do orgão de comunicação social. Ao pessoalizar esse espaço, o artigo passa a caracterizar exclusivamente a visão de quem a escreve.


Assinar um editorial ou apresentar um jornal com a total ausência do mesmo impossibilita ao leitor compreender o seu juízo institucional. Ninguém é inocente. Todos os editores têm posições ideológicas e isso reflete-se na redação e no conteúdo que ela produz.


Individualizar a opinião editorial retira a responsabilização que o jornal é obrigado a ter perante os seus leitores. Se alguém quiser acusar um orgão de comunicação de uma ação determinada por uma linha ideológica, o mesmo pode facilmente esconder-se por trás da barreira desonesta da assinatura pessoal.


Segundo Joseph Pullitzer, “é imoral esconder-se por detrás da neutralidade das notícias”. Só porque o dever de um jornal é relatar os factos, não quer dizer que o mesmo não possa ter uma posição sobre os mesmos. Porque todos nós temos uma posição. Pior do que qualquer opinião, é não ter nenhuma - ou ter, mas ocultá-la. É um dever para com a verdade que um jornal não tenha medo em admitir a sua ideologia.


O Ponto e Vírgula pauta-se pelo rigor na informação, mas não teme as consequências da opinião. Enquanto jornal, estaremos sempre prontos para tomar uma posição coletiva em relação aos temas que definem a sociedade atual. Estamos unidos na defesa da verdade, incluindo aquela que deve ser exposta num editorial.

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