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Votos de esperança para o Cinema português

Portugal produziu filmes bons, muito bons até, e provou que também tem grandes artistas. Ninguém chega lá sem espetadores, mas nessa componente os portugueses têm correspondido e mostrado interesse em ideias arrojadas.

Cinema
Fotografia: Variações

2019 terminou e a indústria de Cinema tem muito em que pensar. A Netflix continua a servir de plataforma para grandes autores testarem ideias arrojadas. A Disney e a Apple entraram no ringue do streaming. A bilheteira viu o filme mais bem-sucedido de sempre.


No entanto, apesar de mais de dois mil milhões de euros de Endgame e oito dos restantes nove(!) filmes da Disney renderem mais de mil milhões de euros na bilheteira, as receitas globais foram inferiores ao ano passado. Em novembro, só um filme (Ford v Ferrari) não foi um falhanço de bilheteira. Não só isso como a indústria ainda está a recuperar do recorde de baixo número de espetadores em salas de 2017. Ou seja, os filmes estão cada vez mais caros e há cada vez menos pessoas a ir vê-los.


Esta problemática merece a sua própria reflexão, mas vamos colocá-la de lado para falarmos de um país que fugiu à regra: Portugal. Desde 2015 que os cinemas portugueses têm recuperado o número de espetadores e 2019 é o melhor ano desta subida, ultrapassando, provavelmente, a marca dos 15 milhões de portugueses em salas.


Num mercado global dominado pela Disney, que deteve 80% das receitas feitas em bilheteiras pelo mundo, Joker foi o segundo filme mais visto em Portugal. No ranking mundial o filme para maiores de 18 ficou em sétimo, enquanto para as audiências tipicamente familiares de Portugal ficou só atrás do filme mais visto de sempre no nosso país (O Rei Leão de 2019).


Para além do aspeto financeiro, o cinema português também tem dado sinais de vida do ponto de vista artístico. Variações é um belo tributo ao mito que lhe dá nome e foi o filme português mais visto dos últimos quatro anos e o quinto mais visto de sempre. Snu fez-nos recordar duas figuras marcantes do Portugal pós-25 de abril. Tiago Guedes lançou dois filmes de qualidade num ano: Tristeza e Alegria na Vida das Girafas e A Herdade, este último presente no Festival de Veneza. Quem também esteve em Veneza foi Leonor Teles com o seu Cães que Ladram aos Pássaros. E para o ano teremos Bruno Aleixo e uma biografia das Doce.


Portugal produziu filmes bons, muito bons até, e provou que também tem grandes artistas. Ninguém chega lá sem espetadores, mas nessa componente os portugueses têm correspondido e mostrado interesse em ideias arrojadas. Há um público que quer ver Cinema de autor.


Este ano desmantelou o preconceito negativo em torno dos filmes portugueses para muitos espetadores. Podemos voltar a acreditar que uma obra nacional não vai ser um fracasso de bilheteira. Confirmamos que não são só os filmes para a família que não têm salas desertas. Crescemos contra as tendências do mercado mundial.


A terminar 2019 e a entrar num 2020 essencial para a definição da próxima década cinematográfica, este texto serve de votos de esperança para a produção nacional. Portugal tem artistas com boas ideias e público que as quer visionar. Precisa-se de continuar a apostar no que é nosso. Temos de dar plataformas para o Cinema português se mostrar ao país e ao mundo. Sem medos, como sempre, a rumar contra as marés, em direção a um futuro melhor.

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