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Especial Melhores de 2019: Filmes

Atualizado: 17 de jan. de 2020

2019 foi um ano de excelência cultural... Perdemo-nos por entre notas musicais e diálogos de séries, composição fotográfica e planos cinematográficos, tecidos invulgares e as multidões de concertos. Perdemo-nos, mas encontramo-nos também. Agora, queremos partilhar estes novos pedacinhos de nós com todos os que nos quiserem ler. Porque a arte existe para ser partilhada e a beleza está e todas as coisas - basta olharmos com atenção.


Filmes
Frame de Joker

2019 foi um fascinante para o mundo do Cinema. Tivemos recordes positivos e negativos de bilheteira. Alguns dos mestres voltaram em grande forma. Outros novatos tentaram coisas novas e interessantes. A Netflix apostou forte em filmes próprios e a Disney sugou quase todo o lucro com as propriedades que adquiriu. Pelo meio, ainda houve espaço para algum orgulho nacional.


O ano que agora finda foi, do ponto de vista qualitativo, um dos melhores desta década. Foi complicado selecionar os melhores dos melhores e, certamente, haverá ausências que seriam presenças igualmente válidas.


Antes de prosseguirmos, fiquemos só com a referência rápida ao filme inevitável do ano. Avengers: Endgame pode não ser dos melhores, mas é o mais bem-sucedido de sempre na bilheteira internacional. Fez um total de 2.516.817.453,36 euros nos Cinemas e concluiu a maior saga de sempre da História do Cinema.


Agora sim, entrando nas grandes obras do ano, comecemos pelo início. O primeiro grande filme de 2019 foi Us, o segundo filme de Jordan Peele, depois de se ter estreado em grande com Get Out. Novo sucesso? Pois claro, foi inclusive o único filme baseado numa ideia original a ficar no topo da bilheteira internacional.


Indo além dos números, Us é mesmo uma peça fenomenal de terror. A genialidade de Peele passa pela subversão de convenções para criar um horror diferente do expetável. Us não é sobre sustos do nada, arrepios sobrenaturais ou truques baratos. É o terror obtido através da reflexão social. Uma forma refrescante e eficaz de refletir e, simultaneamente, perturbar.

Se Get Out foi a grande revelação, Us é a a consolidação de Jordan Peele. O mais aliciante de tudo isto é que depois de dois sucessos seguidos, ainda temos a sensação de que Peele está apenas a começar.


Do terror para a ficção científica não se dá um salto muito grande, mas em Ad Astra o que se destaca é o drama familiar. Brad Pitt lidera um elenco magnífico de veteranos como Donald Sutherland e Tommy Lee Jones. É mesmo a estrela principal o grande destaque, devido à interpretação intensamente subtil e envolvente.

A realização do experiente James Gray proporciona uma experiência espacial ótima. A banda sonora e a cinematografia apresentam um Espaço frio e duro ao mesmo nível que é lindo e mágico.


O final é uma reflexão de como até numa coisa tão vasta como o Espaço, não podemos deixar de valorizar as pequenas coisas. Uma mensagem pura e cheia de humanidade que não conseguiu grande sucesso na bilheteira. Mesmo assim, os verdadeiros amantes das estrelas que existem para além do nosso céu devem dar uma oportunidade a Ad Astra.


De uma aventura espacial para o verdadeiro Rocketman. A vida de Elton John teve direito a um daqueles filmes biográficos que as massas tanto gostam de ver.


No entanto, se Bohemian Rhapsody, de 2018, foi um filme seguro sobre Freddie Mercury, o realizador Dexter Fletcher decidiu ser arrojado a contar a história de um dos músicos mais arrojados de sempre. Rocketman desvia-se do estereótipo e transforma a vida de Elton John num musical impressionista, através do uso visionário da discografia do músico britânico.

Edição: Sofia Matos Silva

A coreografia, o trabalho vocal, o arranjo instrumental, a cinematografia, enfim, todas as componentes audiovisuais brilham de maneiras diferentes. No centro de tudo está Taron Egerton no papel de Elton John. A interpretação reproduz de forma fiel os maneirismos e espelha o caos emocional da carreira conturbada do músico.


A moda dos filmes sobre estrelas também chegou à música portuguesa, com certeza. António Variações continua a ser uma figura icónica da nossa cultura, apesar dos curtos anos na ribalta. A paixão do realizador João Maia – e do ator Sérgio Praia – manteve viva a ideia de um filme sobre o artista. Uma década e meia depois, Variações é o filme português mais visto nos últimos quatro anos.


A narrativa não vai pelo caminho seguro de mostrar os altos e baixos mais famosos do cantor. Em vez disso, temos direito a um estudo íntimo de personagem, onde observamos a luta de António Variações para singrar no mundo da música, enquanto lida com os problemas pessoais que marcaram a sua vida.

Alguns podem ficar desapontados por não verem a descoberta de Variações por parte de Júlio Isidro, ou a atuação de abertura para o concerto de Amália Rodrigues. No entanto, é contar o lado mais desconhecido do artista o que dá mais valor a este filme. Chama-se Variações, mas saímos da sala de cinema a conhecer António.


Sérgio Praia merece todos os elogios imagináveis pela sua transformação camaleónica. A timidez do homem e a irreverência exuberante do cantor são ambas interpretadas genialmente. A prestação vocal é também de grande mérito. Ainda dentro do parâmetro musical, a banda sonora do filme nunca supera as composições originais, com a exceção da ótima rendição de “Canção de Engate”.


João Maia lutou pela sua visão e para nos dar a conhecer melhor António Variações. Este filme comprova que, três décadas depois da morte do artista, o mito mantém-se vivo.


As biografias não são os únicos filmes biográficos. Às vezes, um realizador consegue dizer mais sobre a sua vida no campo da ficção e prova disso é Dolor y Gloria. Pedro Almodóvar escolheu Antonio Banderas para encarnar o seu alter-ego: Salvador Mallo.


O filme é simples e sem algumas das excentricidades do realizador espanhol. Em vez disso, temos um ensaio simples sobre o crepúsculo da vida e as dificuldades criativas de um artista. A simplicidade da narrativa, dos diálogos e da música não são um ponto fraco, pelo contrário.


O grande mérito do filme é conseguirmos perceber a frustração que uma vida com várias pontas soltas pode deixar num homem que se sente encurralado pelo seu próprio sucesso.

Antonio Banderas e Penélope Cruz são as grandes estrelas e Banderas em particular faz uma atuação sublime, candidata a melhor da carreira. A reviravolta final empregada por Almodóvar fecha o filme em chave de ouro, enquanto lhe atribuí uma nova camada de significado. A prova derradeira de que Dolor y Gloria é uma obra feita por um artista que domina completamente a arte de contar histórias.


Não são só os humanos que nos contam boas histórias. Os brinquedos da Pixar conseguem fazê-lo também. A verdade é que por mais desnecessário que Toy Story 4 seja, a sua narrativa não só reforça os valores que sempre foram os pilares da saga como lhes dá uma conclusão satisfatória.

Tom Hanks tem a sua melhor prestação como Woody, transmitindo as incertezas do protagonista sobre o seu propósito no mundo. Aceitar o fim da linha é uma mensagem forte que pode tocar mais os graúdos do que os miúdos. Mesmo assim, qualquer criança vai ficar encantada com a magia típica da Pixar.


O impossível foi feito. Toy Story concluiu duas vezes a saga com sucesso. A Disney está de parabéns, mas esperemos que a empresa aprenda com o seu filme e saiba seguir em frente por um novo caminho.


Quem está sempre a meter-se em novos sítios é Quentin Tarantino. Desta feita, o realizador opta por nos colocar a conviver com um trio de protagonistas, na fantasia de Hollywood de 1969. A narrativa, ou falta dela, de Once Upon a Time… in Hollywood apanha de surpresa o espetador. O chamado hang-out movie não era feito por Tarantino desde Jackie Brown.


As personagens são, assim, o elemento fulcral para que o filme resulte. Os três atores principais conseguem brilhar, cada um à sua maneira, através das peripécias e o diálogo rico típicos de Tarantino. DiCaprio apresenta uma projeção de insegurança digna de prémios, Pitt tem o carisma ligado ao máximo e Robbie encarna uma Sharon Tate angelical.


A melancolia está sempre presente em Once Upon a Time… in Hollywood. A melancolia pelo fim bruto de uma era. É um projeto feito com carinho por alguém que adora a 7ª Arte e as pessoas que a fazem ou já fizeram. O realizador tem dito que não sente necessidade de prolongar muito mais a carreira, planeando retirar-se ao décimo filme. A verdade é que Tarantino pode não precisar de criar mais cinema, mas, neste momento, o cinema precisa de mais pessoas que o criem como Tarantino.


Outro como ele também se destacou em 2019. Martin Scorsese junta um trio inédito constituído por Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci para produzir um dos seus filmes mais ambiciosos.


The Irishman é um épico da máfia e, simultaneamente, uma reflexão introspetiva e serena sobre a tragédia inevitável de uma vida de crime. Uma celebração do Cinema em que estes quatro vultos se tornaram estrelas e uma desconstrução do mesmo.

A saga de três horas e meia nunca perde o fôlego. Cada momento pode não ser absolutamente essencial, mas são peças importantes de um puzzle que nos confronta com a finalidade da vida. É um ensaio paciente sobre camaradagem e mortalidade e mais uma peça que forma a carreira lendária de Martin Scorsese.


O estatuto de lenda não é fácil de obter, mas este ano uma nova figura parece aproximar-se desse título. Bong Joon-ho e o seu Parasite são um dos destaques mais unânimes do ano. Um filme fiel às suas raízes sul-coreanas que transmite uma mensagem universal. A luta de classes e a falta de compaixão dos mais ricos pelos mais pobres formam a base para uma montanha russa emocional com um fim imprevisível.


O maior mérito de Bong Joon-ho é conseguir alterar, constantemente, ao longo do filme, as regras do jogo. É complicado definir Parasite num género, já que a obra explora tanto vertentes cómicas como dramáticas.


Um artista asiático volta a quebrar barreiras linguísticas e culturais para provar que o Cinema é um meio artístico capaz de nos unir à volta de dilemas transversais a toda a Humanidade. 2019 foi um ano onde várias lendas vivas do Cinema estiveram em destaque, mas também foi o ano em que Bong Joon-ho se tornou numa lenda.


E não podemos terminar esta retrospetiva sem mencionar o vilão mais lendário da cultura pop. Joker caiu que nem uma bomba no status quo cinematográfico. Um filme de baixo orçamento, para maiores de 18 anos e vilificado pelos media. Resultado? Recordes e quase mil milhões de euros na bilheteira.


A performance já icónica de Joaquin Phoenix é o centro de uma viagem profunda ao psíquico de um monstro. O problema para muitos é como esse monstro é real e humano. Um espelho das consequências provocadas pelos grandes problemas sociais do século XXI.


Não esquecer a fusão hipnotizante entre o jogo de cores da cinematografia e as cordas trágicas da banda sonora. Um universo de inocência, repressão e, inevitavelmente, caos. Construído por artistas no auge das suas capacidades, liderados pelo realizador Todd Phillips.


Joker foi lançado na altura certa para colocar o mundo em polvorosa. Amado por muitos e odiado por tantos outros, é uma obra que dará que falar durante muito tempo. Um filme que muitos temiam que fosse um incentivo ao ódio quando na verdade é uma carta desesperada por amor e tolerância. Ou seja, o Melhor Filme de 2019.


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