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Caretos de Podence Património Imaterial da Humanidade

Atualizado: 13 de jan. de 2020

A tradição de Carnaval de Macedo de Cavaleiros foi oficialmente reconhecida pela UNESCO esta quinta-feira.


Fotografia: Sofia Matos Silva

Os Caretos de Podence, tradicionais figuras do Entrudo Chocalheiro Nordeste Transmontano, foram classificados pela UNESCO Património Imaterial da Humanidade. O anúncio foi feito esta quinta-feira a partir de Bogotá.


O processo da candidatura foi iniciado em 2014, com uma equipa técnica científica liderada por Patrícia Cordeiro, tendo sido formalmente apresentada em março de 2018. O promotor da candidatura foi o Município de Macedo de Cavaleiros, em parceria com a Associação dos Caretos de Podence.


O Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO) começou a analisar ontem as nomeações em Bogotá, na Colômbia, nesta que está a ser a sua 14ª reunião.

Ao todo, são 42 nomeações, oriundas de todas as partes do mundo. O Carnaval de Podence das Festas de Inverno transmontanas constitui a única candidatura selecionada pelo Governo português para representar Portugal.

Os Caretos de Podence passam, assim, a integrar a lista de Património Imaterial da Humanidade com origem portuguesa, ao lado do Fado, do Cante Alentejano, da Dieta Mediterrânica, da Falcoaria e dos processos de fabrico dos “Bonecos de Estremoz”, do Barro Negro de Bisalhães e dos Chocalhos alentejanos.


Os mascarados de Podence já haviam sido reconhecidos pelo Governo português com o estatuto de Património Cultural Imaterial de Portugal em 2017. Nesse mesmo ano, o plenário da Assembleia da República deu um voto de saudação por unanimidade ao Carnaval dos Caretos. Têm representado Portugal em eventos internacionais, contando com participações na Disneyland Paris, no Carnaval de Nice e no Carnaval de Viareggio, ente inúmeras outras. Foram, também, distinguidos pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda (INCM) com a emissão de uma moeda da “Etnografia Portuguesa” dedicada a esta tradição.


Em Bogotá está presente uma comitiva em representação dos Caretos, na qual estão incluídos autarcas, Patrícia Cordeiro (a investigadora que fez a recolha de dados e liderou a equipa técnica da candidatura) e o presidente da Associação dos Caretos. Esta comitiva regressará a Portugal no domingo. A chegada será às 15h ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, seguindo-se os festejos no concelho às 18h.



Reconhecimento de “candidatura exemplar”


A 8 de novembro foi emitido um parecer da UNESCO, no qual a candidatura portuguesa foi elogiada. Podia ser lida a apreciação: “louvamos o Estado, mas especialmente a comunidade de Macedo de Cavaleiros por ter apresentado uma nomeação exemplar, mostrando como uma pequena comunidade pode responsabilizar-se pelo seu património cultural através das suas gentes e explicando como o papel dos géneros foi evoluindo em resposta a mudanças sociais e económicas”.


António Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal junto da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura, esclareceu, na altura, que esta avaliação “recomenda a inscrição do Carnaval de Podence, dos caretos e de todas as festividades na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade”. Salientou que este “é um reconhecimento muito importante. É muito raro os peritos da UNESCO utilizarem designações como exemplar numa candidatura, e foi sublinhado o envolvimento da comunidade”.


As reações


Agora, Sampaio da Nóvoa volta a elogiar a candidatura montada e mostra-se feliz com a classificação. Afirma que esta é uma “decisão muito importante para nós. Tivemos este ano a inscrição do Bom Jesus e do Palácio de Mafra como Património Mundial Cultural. Temos agora, no final do ano, a inscrição dos Caretos de Podence. Foi um processo que correu muito bem”.


Benjamim Rodrigues, presidente da Câmara de Macedo de Cavaleiros, faz parte da comitiva presente em Bogotá e declarou à Lusa que a decisão “enche de orgulho” o concelho transmontano e o país, propondo-se a assumir “a partir de hoje” a “responsabilidade maior” que esta classificação confere ao concelho.


O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa também já felicitou o reconhecimento numa nota publicada no website da Presidência. Marcelo salienta que “conseguiram, mais uma vez, que o património português se mostrasse ao mundo na sua diversidade, fidelidade e empenho”.


O primeiro-ministro António Costa publicou no Twitter os seus “parabéns aos habitantes de Podence que mantêm viva esta tradição única e aos que contribuíram para a sua valorização internacional, que é um motivo de orgulho para todos os portugueses”.


Graça Fonseca, ministra da Cultura, emitiu em comunicado que esta classificação contribui para “reforçar um ativo patrimonial e turístico que excede os limites do território do nordeste transmontano”.

Fotografia: Sofia Matos Silva


Quem são os Caretos de Podence?


Podence é uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros com cerca de 250 habitantes. Desde a reorganização administrativa de 2012/2013, Podence já não existe como freguesia; passou a formar com Santa Combinha a União de Freguesias de Podence e Santa Combinha.


A tradição do Entrudo Chocalheiro na região já é antiga. Os autores situam entre o Neolítico e a época dos romanos a origem das celebrações do Carnaval. Em Podence, a tradição foi recuperada nos anos 80 pela Associação Caretos de Podence, datando a inauguração da Casa do Careto de 2004.


Ao longo dos anos, o Entrudo tornou-se numa atração turística, juntando cerca de 40 mil pessoas na aldeia ao longo dos quatro dias em que ocorre. É, efetivamente, uma tradição invulgar e curiosa de se assistir. Estas festas de Carnaval são envoltas em cor e som, alegria e movimento – e muito álcool. Os “rivais” de Podence são os Caretos de Lazarim, que figuram uma tradição um pouco diferente, com menos cor, mais satírica e “demoníaca”.


Tradicionalmente, os Caretos de Podence usam trajes de lã colorida com carapuço e cauda, máscaras de folha de zinco vermelhas e um cinto de chocalhos à cintura. No Domingo Gordo e na Terça-feira de Carnaval, os homens e rapazes saem à rua para “chocalhar” as moças, protegidos pelo anonimato que o traje lhes confere. Esta tradição acaba por ter algo de mágico e misterioso, acreditando os locais que existem forças sobrenaturais ocultas nos rituais das festas - forças estas que atribuem aos Caretos uma certa imunidade no desempenho deste cortejo sexual.

Fotografia: Sofia Matos Silva

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