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Especial Melhores de 2019: Música

Atualizado: 17 de jan. de 2020

2019 foi um ano de excelência cultural... Perdemo-nos por entre notas musicais e diálogos de séries, composição fotográfica e planos cinematográficos, tecidos invulgares e as multidões de concertos. Perdemo-nos, mas encontramo-nos também. Agora, queremos partilhar estes novos pedacinhos de nós com todos os que nos quiserem ler. Porque a arte existe para ser partilhada e a beleza está e todas as coisas - basta olharmos com atenção.


James Blake. Fotografia: Sofia Matos Silva

2019 foi um ano excelente no que toca a produção musical. Este tanto pode ser um artigo de melhores do ano como um de retrospetiva; houve tantos discos bons a sair que o difícil é escolher. Chamar-lhe-emos, então: 2019, um ano de e para a música.


A tradição manda entrar no ano novo com o pé direito. James Blake aprendeu bem a lição: dezoito dias decorridos e Assume Form já estava a ser lançado. Contando com as participações de Travis Scott, Metro Boomin, Moses Sumney, Rosalía e André 3000, o britânico apresenta um conjunto arrepiante de 13 músicas. James Blake sabe o que faz, sem o saber. Consegue juntar toda a fragilidade que sente à força que nele o mundo vê, a dor à leveza, a tristeza mais profunda à mais pura das alegrias. Assume Form é um disco no qual as músicas se unem como se não existisse um início nem um fim, mas um sempre. “Where’s The Catch?” é uma das canções que se destaca no disco; quando um dos mais respeitados músicos da década e uma lenda do hip-hop se unem para falar de saúde mental, o mundo fica em suspenso para ouvir o que têm a dizer.


Passando diretamente para o fim do ano, temos a obra-prima de Slow J. O puto lento desapareceu durante dois anos e regressou com um disco surpresa. You Are Forgiven foi lançado a 21 de setembro. A verdade é que, numa era em que o hip-hop representa a maior fatia da música ouvida mundialmente, há muito espaço para músicos que não dizem absolutamente nada. Em Portugal, o fenómeno do hip-hop tuga e, particularmente, do trap, são o verdadeiro exemplo disso. O mérito de Slow J é ainda maior por isso mesmo. Brutalmente honesto, o músico usa e abusa das palavras como ninguém. Foge de campanhas de marketing e dos holofotes, não cede às pressões e mantém-se fiel a si próprio.


Quem também se mantêm fiéis a si próprios são os First Breath After Coma. O terceiro disco da banda saiu em março e marcou um ponto de viragem no seu percurso. NU é uma jornada sem fim, uma que nos acompanha para toda a vida. Os melhores álbuns são assim: tocam-nos algures cá dentro quando com eles nos deparamos, num sítio profundo para o qual ainda não temos denominação. E nunca mais nos largam; ficam sempre connosco, fiéis a quem neles viu algo mais. É um disco que toca a perfeição, sem alguma vez o ter ambicionado - e é tão bom por isso mesmo. Em NU nos perdemos e em NU nos encontramos, sem sequer saber que era isso que procurávamos.


Depois de Oshin e de Is The Is Are, os DIIV regressam com um disco bastante diferente. Mais maduros e experientes nas andanças da música, os rapazes de Brooklyn cresceram, que sabem exatamente o que estão a fazer e que os mundos do indie rock e do shoegaze são onde pertencem. Depois de ter passado pelo processo de desintoxicação e reabilitação, Zachary Cole Smith quis pôr a sua vida no sítio, assumir responsabilidades, reparar as relações fragilizadas e recuperar as perdidas. Deceiver é o primeiro trabalho da banda em que todos os membros contribuíram para a sua composição.




Depois de quatro discos sólidos como uma rocha – como um diamante, diria até - e de não irem para o estúdio durante quatro anos, os Foals resolveram lançar, não um, mas dois álbuns em 2019. Everything Not Saved Will Be Lost é uma maratona de músicas de qualidade, dividida entre uma prova de primavera e uma de outono. Com 10 músicas e cerca de 40 minutos cada, as partes do disco complementam-se e completam-se. Canções como “Café d’Athens” e “I’m Done with the World (& It’s Done with Me)” são tão boas que se tornam difíceis de passar para palavras.




A rainha da melancolia lançou Norman Fucking Rockwell! nos últimos dias de agosto e marcou o fim de verão de toda a gente. A Lana tem o dom de cantar e fazer toda a gente querer ouvi-la. Este sexto trabalho acrescentou uma data de hinos obrigatórios à já de si longa lista de músicas perfeitas da Lana del Rey. Apesar de ainda melancólico – como não o haveria de ser? – e emotivo, este já é um trabalho ligeiramente mais leve e mais livre. Quase que se pode associar a jams tocadas à volta de uma fogueira na praia num fim de tarde de verão, em vez do ambiente de viagem de carro à chuva habitualmente associado. A Lana é e continuará a ser uma das grandes referências da música, e este é só apenas mais um álbum que não deixa margem para dúvida.


Edição: Sofia Matos Silva

Três anos depois, Angel Olsen regressa para um dos discos mais importantes do ano. Ao longo de 48 minutos, este verdadeiro anjo tanto sussurra como nos berra ao ouvido, libertando tudo o que sente e pedindo para nos libertarmos com ela. Onze hinos, todos os espelhos e a dissecação do Ser. Se havia alguma emoção por conhecer, agora já não há. Tudo é explorado em All Mirrors, exorcizado e recriado. Apesar de presa dentro de si própria, Angel nunca estará sozinha. Tem consigo os milhões de amantes de música que, pelo mundo fora encontram nas suas canções um espaço seguro. Um lar. A delicadeza com que canta contrasta com a precisão visceral com que nos afeta. Ninguém fica indiferente a All Mirrors.


Ghosteen é um disco particularmente doloroso de ouvir. A dor de Nick Cave é tão palpável que a conseguimos sentir até à medula dos ossos. Só a primeira música já é suficiente para nos destroçar. Apesar de emoção pura ser algo a que estamos habituados na sua música, este trabalho atinge um novo nível de autenticidade. Ghosteen é um álbum para se ouvir a seu tempo. Com cuidado e delicadeza, como quem pega num recém-nascido. Porque o coração de Nick Cave parece já estar destroçado para lá do ponto onde a recuperação é possível e o nosso não, mas também lá pode chegar.



Billie, Billie, Billie. Com 18 anos feitos há umas semanas, ainda traz consigo um pouco da inocência da infância, mas já guarda em si uma mulher forte o suficiente para carregar toda a dor do mundo. WHEN WE FALL ASLEEP WHERE DO WE GO? é um dos principais discos do ano; trata-se apenas do disco de estreia, é certo, mas já correu o mundo e as cerimónias de prémios. Construído em colaboração com Finneas, pouco se consegue distinguir onde acaba um e começa o outro. São canções que parecem ter o dom de pertencer a quem as ouve, quer tenha 10 ou 40 anos, quer se reflita no que é cantado ou apenas o imagine. Por entre os mais jovens, poucos são os que escapam ao furacão Billie, este remoinho negro e intenso, ambíguo e inovador.



Jaden é outro dos grandes nomes mais jovens a infiltrar-se no panorama musical, ainda que mais lentamente e com um percurso mais irregular. Se SYRE e a tonelada de mixtapes que já gravou não o provaram, ERYS mostra que Jaden é, sem qualquer dúvida, bastante mais do que o miúdo mimado filho do Will Smith e da Jada Pinckett Smith. ERYS continua a história de SYRE: um rapaz tão obcecado com perseguir o pôr do sol que um dia acaba por ser ele o perseguido. ERYS é a parte renascida de SYRE, o outro lado do ego; afinal, os nomes são precisamente o oposto um do outro.



Apesar de ter destacado estes dez trabalhos de 2019, poderia facilmente ter destacado mais uns dez - e mais dez ainda. Para simplificar, fica para referência futura uma lista de alguns dos melhores discos do ano.


American Football LP3 (American Football) | Emerald Classics (Swim Deep) | Hollywood’s Bleeding (Post Malone) | Paper Castles (Alice Phoebe Lou) | IGOR (Tyler, The Creator) | i,i (Bon Iver) | Pony (Rex Orange County) | Miramar Confidencial (David Bruno) | Morningside (Swimming Tapes) | Fine Line (Harry Styles) | Cry (Cigarettes After Sex) | Oncle Jazz (Men I Trust) | Full Moon Fever (The Pains of Being Pure At Heart) | DSVII (M83) | Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery (The Comet is Coming) | GINGER (BROCKHAMPTON) | Weather (Tycho) | Hot Motion (Temples) | Here Comes The Cowboy (Mac DeMarco) | Atlas: Enneagram (Sleeping At Last) | O Sol Voltou (Luís Severo) | Desalmadamente (Lena D'Água) | Bairro da Ponte (Stereossauro) | Aurora (Sensible Soccers) | Minho Trapstar (Chico da Tina) | Lover (Taylor Swift) | Jesus is King (Kanye West) | Fever (Balthazar) | Dedicated (Carly Rae Jepsen) | Charli (Charli XCX) | Titanic Rising (Weyes Blood) | I Am Easy to Find (The National) | Thanks for the Dance (Leonard Cohen) | Ventura (Anderson .Paak) | Schlagenheim (Black Midi) | Outer Peace (Toro y Moi) | All My Heroes Are Cornballs ( JPEGMAFIA) | Fear Inoculum (TOOL)

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