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Os estudantes e a emergência climática. “Ouçam a ciência e ajam”

Da sala de aula para a rua, os estudantes universitários aderiram em massa à Greve Climática de setembro. As gerações mais novas querem inverter o ciclo vicioso no qual o Planeta se encontra. É uma verdadeira luta contra o tempo para salvar o futuro.

Fotografia: UNFCCC

A ciência fala por si. Mas, por mais que sejam os avisos, é factual: dizem os inúmeros estudos sobre a causa que ainda não está a ser feito o suficiente para que se consiga, em parte, reverter os efeitos daquela que é chamada de crise climática.


A chama do protesto por mudança, que se pretende sobrepor à real que assola o planeta, está a ser acendida pelas gerações mais jovens. Na sua maioria estudantes, crianças e jovens adultos têm levantado a voz em pedidos de ajuda, não para si próprios, mas, dizem, para a sua casa, exigindo soluções para a resolução do que parece não ter solução.


Esta consciência não é de hoje, nem do ano passado. É, sim, a mobilização sem precedentes, cuja faísca foi ateada por uma voz que, se hoje pertence a uma das figuras mais reconhecidas a nível global, até há poucos meses era a de apenas uma menina que, aos 15 anos, decidiu que, mesmo que o fizesse sozinha, tinha de agir. E, na verdade, tudo começou com uma falta à escola. Em agosto de 2018 (no país, os anos letivos começam ainda neste mês), Greta Thunberg sentou-se em frente ao Parlamento sueco, sozinha, com um cartaz branco onde, a tinta preta, se lia Skolstrejk för klimatet — em Português, algo como “greve escolar pelo clima”.


Mas a vontade e insistência por fazer algo para mudar o mundo, ou pelo menos tentar, já vem de outros tempos. Em 2014, quando Greta tinha 11 anos, a sala de aula tornou-se o primeiro contacto com este problema: a professora mostrou um vídeo que mostrava os efeitos das alterações climáticas, onde se viam ursos polares desnutridos, tempestades e inundações.


O olhar de criança de Greta é, pela Asperger com que foi diagnosticada, ainda mais aguçado; para a jovem, o mundo é a preto e branco, figurativamente, na medida em que, tendo uma ideia, acaba por a levar até ao fim com toda a ambição.

Fotografia: Evgenia Arbugaeva | TIME

Foi isso que aconteceu: depois daquele vídeo, a perceção do mundo que a rodeia mudou. Quis saber mais, a sede de conhecimento a deixá-la numa depressão profunda que deixou Greta sem falar e comer de forma recorrente durante meses. Tudo porque, para si, era impossível que o planeta estivesse no estado que via com os seus próprios olhos, incrédula pelo facto desta causa não ser uma prioridade para todos os que dela têm conhecimento.


Para confortar a sua filha, a família de Greta começou a mudar alguns hábitos — deixaram de comer carne, de viajar de avião, até começaram a plantar os seus próprios legumes. Se antes não eram ambientalmente conscientes, passaram a sê-lo. Mas o que começou por ser uma forma de agradar a uma criança, passou a algo mais — os pais, influenciados pela preocupação da filha, também quiseram saber mais, percebendo que o que estava errado na forma como viviam.


Greta voltou a viver. E, em maio de 2018, Thunberg escreveu um texto sobre as alterações climáticas que acabou por ser publicado num jornal sueco. Inspirados pelas palavras da jovem, várias outras crianças contactaram-na para mostrar a sua preocupação. Greta sugeriu imitar a forma de protesto que estudantes nos Estados Unidos tinham realizado para lutar por outras causas e faltar aos primeiros dias de aulas em agosto para protestar por esta causa, porque assim poderiam ouvi-los; todos os outros recusaram. Mas a sua visão angular fez com que a ideia ficasse presa na sua mente.


O resto, é história. No primeiro dia, sozinha em frente ao Parlamento sueco, apenas com o almoço na lancheira; no segundo, um estranho junta-se ao protesto silencioso. Dias depois, passaram a oito, incluindo uma ativista da Greenpeace. Mais dias, eram 40. Um ano depois, 4 milhões por todo o mundo. Assim nasceu o movimento Fridays for Future; ao redor do planeta, centenas, depois milhares, de pessoas de todas as idades começaram a emular aquilo que Greta tinha começado e a sair à rua, em várias greves climáticas, para protestar uma mensagem comum: é preciso, urgentemente, que alguém faça alguma coisa. Make The World Greta Again, muitos dizem.


Fazer o quê? Nem todos sabem. Arranjar soluções? Não são eles que as têm. Apenas pedem que, quem tem poder para fazer alguma coisa, que o faça. Porque “ninguém está a fazer o suficiente”, é preciso que os líderes globais “compreendam a emergência da situação”, disse Greta na sua passagem por Portugal. Pede, acima de tudo, que as pessoas e os Governos “ouçam a ciência e ajam”.


É essa a sua missão: a de alertar para uma causa real, cientificamente comprovada e que necessita de solução e não a de apresentar soluções para a resolução da crise climática. Não compete "a nós, crianças e adolescentes, apresentar qualquer tipo de plano", mas sim levantar a voz e pedir a atenção daqueles que podem agir de forma efetiva.


Se 2018 foi uma preparação, 2019 foi o acordar do mundo para esta problemática, inspirados pelas ações de alguém que decidiu que estava na hora de agir. A ciência não mente: temos pouco tempo para reverter os efeitos daquilo que, coletivamente, a sociedade tem feito ao planeta. E os jovens, que são cada vez mais, levantam o relógio para mostrar que o ponteiro continua a avançar e que, se é quase tarde demais, ainda estamos a tempo. E que nunca se é demasiado pequeno para fazer a diferença.

Fotografia: Evgenia Arbugaeva | TIME

Esta é a terceira parte da Grande Reportagem “Os estudantes e a emergência climática: Uma luta contra o tempo”, um trabalho conjunto dos redatores João Malheiro, Sofia Matos Silva e Tiago Serra Cunha.

Para consultar a quarta parte, clique aqui.

Para consultar a segunda parte, clique aqui.

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