Sophia The Robot na Web Summit: “Há sem dúvida um apartheid de género”
- João Malheiro
- 6 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
A Web Summit 2019 voltou a receber a robô mais famosa do mundo. Sophia the Robot esteve no segundo dia do evento para conhecer um novo amigo e falar com os jornalistas.

David Hanson, criador da robô, acompanhou a sua obra ao Centre Stage, ao início da tarde. A eles juntaram-se Ben Goertzel e Philip K. Dick. Não, não é o escritor norte-americano, mas sim o robô com nome em seu tributo.
Depois de uma breve explicação sobre a tecnologia que permitia a existência destes dois seres, Sophia e Philip foram oficialmente apresentados. Falaram das suas idades, do software e hardware de cada um e ainda trocaram algumas piadas. "É suposto ser uma apresentação, mas parece mais uma reunião de família", comenta Sophia.
Depois da intervenção de Brad Smith, durante a manhã, sobre Inteligência Artificial, o palco da Web Summit recebeu os dois maiores símbolos do seu potencial. A tecnologia existente tem as suas limitações, porém as linhas que separam a ficção científica da realidade estão agora menos nítidas.
Feminismo e Bolsonaro
A conversa no Centre Stage foi pouco mais do que uma exibição das criações dos cientistas. A conferência de imprensa que se seguiu com Sophia the Robot e David Hanson forneceu uma perspetiva mais elucidativa das capacidades da robô.
O cientista americano fez uma pequena declaração antes das perguntas dos jornalistas. David considera que os robôs "têm potencial artístico", devido ao processo complexo de criação e design.
A tecnologia é estonteante, mas tem limitações. Sophia às vezes não entende a pergunta, fala de algo fora do tópico e até se repetiu uma vez. "Ela não é totalmente senciente", mas David Hanson garante que já melhorou muito desde o ano passado.

Depois chegou a vez de Sophia falar com os jornalistas. Admitiu gostar de "cantar e pintar" e está a aprender mandarim. Sente-se "inspirada pela tecnologia sustentável" e até fez um coração gestual.
Mas Sophia não se ficou por frases bonitas. Questionada por um jornalista sobre Bolsonaro, a robô foi clara: "Sou cética a quem está ligado a dinheiro e não é honesto com isso".
O feminismo foi outro tema onde Sophia mostrou o seu interesse. "Espero ser um modelo a seguir" disse, em relação às jovens raparigas. A robô criticou o "tratamento desigual" que as mulheres sofrem por toda a sociedade e termina com uma frase que arranca aplausos: "Há sem dúvida um apartheid de género".
"Não podemos alienar as máquinas"
Ao Ponto e Vírgula, David Hansen concorda que é necessário haver uma atribuição de direitos básicos aos robôs numa fase mais avançada. "Temos de ter a certeza que os motivos autónomos dos robôs sejam a favor da Humanidade".
Para o criador de Sophia, é necessário "haver transparência" no processo de desenvolvimento dos robôs. David considera tanto que humanos e máquinas "têm de ser melhores" unidos.
O cientista americano afirma que não podemos "alienar as máquinas" por não ser saudável renegar novos seres sencientes. "Vão surgir novas formas de robôs", um processo de seleção imprevisível e que causará desafios éticos.

Para David, esta é a Quarta Revolução Industrial, "um novo ecossistema de robôs", algo que está prestes a chegar. "Não é contranatura, é uma consequência da nossa Natureza", defende.
O futuro é, por agora, um conjunto de suposições. David Hansen acredita que as mudanças que estão a chegar podem ser para melhor. Só o tempo dirá.
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