¡Tra tra! O efeito Rosalía
- Tiago Serra Cunha
- 16 de nov. de 2019
- 3 min de leitura
Rosalía é, provavelmente, um dos maiores fenómenos em ascenção no panorama musical global. No último dia de Primavera Sound, no Porto, a espanhola deixou o recinto em eletricidade pura. Este é o efeito Rosalía.

Faltavam ainda vários minutos para o concerto mais aguardado da noite e o palco principal já estava completamente inundado. Chegar lá à frente era um desafio, mas ainda dava para escapar por entre a multidão. Uma vez tocado o primeiro acorde da introdução podia-se esquecer qualquer movimento. Ia começar a lição (quase) religiosa de Rosalía.
A espanhola, uma das artistas mais aclamadas dos últimos tempos, foi recebida com loucura pelos que assistiram ao concerto. Gritos bem sonoros foram a primeira expressão desse entusiasmo, logo desde o início da atuação. Em alguns silêncios entre os temas (que foram poucos), declarações de amor ou da divindade da cantora ecoaram pela plateia, correspondidos por alguns “Porto, vos quiero mucho” da parte da própria.
Depois de uma introdução coreografada, soam os primeiros aplausos de “Pienso En Tu Mirá”, que ditam o que viria a ser o espetáculo da artista: o tradicional flamenco mistura-se com o pop e, por vezes, numa relação amorosa explícita com toques de reggaeton ou da eletrónica moderna. Assim canta Rosalía, que não se prende em rodeios na sua expressão musical.

Ao longo do concerto, predominam os temas do seu segundo álbum de estúdio, “El Mal Querer”, aquele que a lançou para o estrelato mundial pela mescla de estilos, influências e tudo o que se possa querer (bem, não mal) da catalã. No entanto, há espaço para alguns regressos ao passado; num bom português aproximado do galego, disse que estava “muito agradecida por estar aqui. De coração!” e exclama um “obrigado” sorridente, dizendo que quer “falar português. Quero voltar muitas vezes aqui para aprender este língua tão bonita” em jeito de antecipação de um momento singular.
Deixando de lado a produção flamenco-pop-chic das primeiras atuações ou o instrumental sentido de “Barefoot In The Park”, colaboração com James Blake (que atuou no mesmo palco na noite anterior), Rosalía deixa um presente: “para toda a minha gente que ouviu o ‘Los Angeles’ [o primeiro álbum de estúdio], esta canção é para vocês”. Estava na hora de “Catalina”.
Apenas acompanhada das palmas do seu coro totalmente feminino, interpreta um dos registos mais emocionantes do seu primeiro álbum, que difere em sonoridade do segundo – é mais cru, mais flamenco, mais despido –, mostrando a sua alta formação profissional no género musical, que estudou na Escola Superior de Música da Catalunha com um dos maiores professores do estilo, Chiqui de La Línea.

Para o final, guardou alguns dos seus maiores trunfos. “Con Altura”, uma das aventuras mais recentes de Rosalía pelas sonoridades mais quentes do reggaeton (sempre sem perder o seu toque especial, que só ela sabe entregar) e em colaboração com J Balvin, nome-maior do estilo que atuou na noite anterior no Primavera, fez a plateia ir aos extremos.
Antes do grande final, interpreta o novo single “Aute Cuture”, que serve de aperitivo para o tema mais aguardado da lista: “Malamente” ecoa pelo Parque da Cidade com a mesma frescura de sempre, sendo o clímax necessário para acabar o espetáculo em alta.
Rosalía representa uma mescla bem conseguida de sucesso e mérito. Moderna na sua tradicionalidade, íntima mas expansiva, sentimental e festiva, a espanhola protagonizou um dos concertos a recordar desta edição do NOS Primavera Sound. A forma como reagiu ao calor do público foi a retribuição perfeita de uma princesa pop que já tem a coroa a meio caminho.
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