National Geographic celebra 130 anos com exposição no Porto
- Ponto e Vírgula
- 22 de out. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de dez. de 2019
A revista norte-americana comemora "Um Século e Tanto" na abertura do novo pólo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. A exposição, que passa em revista a história de Portugal e do Mundo, está aberta a visitas até julho de 2020.

Em 1888, era fundada por um grupo de peritos da área da Ciência a National Geographic. Desde então, passaram 130 anos e a instituição é das mais reconhecidas no mundo inteiro. Parte dessa história chegou à cidade Invicta na exposição "Um Século e Tanto", com o objetivo de celebrar o legado da organização através de objetos, fotografias, mapas e documentos.
O Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) inaugurou uma das suas alas para receber a exposição, antes de dar a conhecer todo o edifício. Luís Fernambuco, diretor da National Geographic Partners em Portugal, considerou o aproveitamento do local uma "oportunidade incrível". Tudo começa logo ao passar a porta, com uma parede preenchida por mais de duas centenas de capas icónicas das edições internacional e nacional da revista.

Os materiais expostos dividem-se por dois pisos. O primeiro relata a história da instituição através de elementos marcantes dos últimos 130 anos, muitos deles vindos diretamente do museu da National Geographic em Washington D.C. Em destaque está a capa da primeira revista a ser publicada pela organização, em 1903, ainda sem fotografia de destaque, prática só começada a partir dos anos 40.
"Ter a oportunidade de abrir a porta para a recuperação incrível que a equipa da universidade está a fazer é o casamento perfeito” | Luís Fernambuco
Numa secção dedicada à primatologia, estão destacadas "as duas rockstars" do universo National Geographic: Dian Fossey e Jane Goodall. Fotografias do trabalho das duas investigadoras e algumas citações preservam a memória dos passos importantes na história da publicação da sociedade geográfica.

"O mais icónico que temos na National Geographic são as fotografias", afirmou Luís Fernambuco e a exposição demonstra isso mesmo. A primeira fotografia com flash debaixo de água, imagens da viagem a Machu Picchu, em 1912 e os registos da aventura pelo Pólo Norte, em 1909, são alguns dos elementos em destaque.
Na transição entre o primeiro e o segundo piso da exposição, está à vista um mapa das bolsas de investigação promovidas pela National Geographic. Portugal tem, atualmente, sete dessas bolsas e três estão destacadas na exposição: Raquel Gaspar está a trabalhar em Setúbal no âmbito da biodiversidade das pradarias marinhas; Nuno Bicho encontra-se a conduzir uma investigação na área da primatologia, em Moçambique; e Martina Panisi documenta, em São Tomé e Príncipe, uma espécie rara de caracol gigante.
Uma história com capítulos portugueses
Subida a escadaria principal, o segundo piso da exposição tem um objetivo diferente. Aqui, mostra-se a contribuição portuguesa para aquele que o Professor Nuno Ferrand de Almeida, diretor do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, define como o “espírito National Geographic”.

Em exposição estão os objetos que exploram as diversas vertentes da participação portuguesa na descoberta do mundo como o conhecemos. Um dos ex-líbris da coleção está imediatamente à vista de quem entra nesta segunda parte de “Um Século e Tanto”: o Padrão de Santo Agostinho, colocado pelo navegador Diogo Cão em agosto de 1483 no então Cabo de Santo Agostinho (actual Cabo Santa Maria) a sul de Benguela, em Angola.
O artefacto, emprestado pela Sociedade de Geografia de Lisboa, representa “os primeiros passos do mapeamento do mundo” realizado pelos portugueses, sendo, também, a representação da abertura do novo museu da Universidade do Porto (UP), numa parceria que já não é recente. A abertura da Galeria da Biodiversidade, sediada na Casa Andresen do Jardim Botânico do Porto, uniu a universidade e a National Geographic em várias iniciativas que agora se desdobram na inauguração deste novo espaço, situado nas traseiras do edifício da Reitoria da UP.
“Todos os que passam aqui à frente vão à Livraria Lello, aos Clérigos, mas vêem esta porta fechada. Ter a oportunidade de abrir a porta para a recuperação incrível que a equipa da universidade está a fazer é o casamento perfeito”, juntando-se uma exposição extensiva a um “espaço que em si merece uma visita”, reitera Luís Fernambuco, diretor da National Geographic Partners em Portugal.

Abre-se, assim, uma janela ao que mais tarde poderá ser visto na íntegra. Armazenadas na parte ainda por revelar do museu estão centenas de coleções biológicas, arquivo compilado ao longo de centenas de anos pelo MHNC-UP e que nunca foi mostrado ao público. Além da baleia exposta na Galeria da Biodiversidade (aquela imaginada por Sophia de Mello Breyner Andresen montada na sua casa), o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto guarda no seu interior objetos de coleções de mineralogia, botânica, paleontologia, guardados ao longo de séculos de exploração de novos territórios, com especial foco nos atuais países africanos.
Segundo Nuno Ferrand de Almeida, a maior parte destas coleções, que considera peças “fundamentais” para o conhecimento da História atual e da partilha do “espírito de conhecimento, exploração e de sustentabilidade”, estará disponível para ver dentro de três anos. Por agora, abre-se a cortina a, por exemplo, um extenso acervo de colibris, que percorre quase toda a espécie da ave, com cerca de 2000 exemplares recolhidos no continente africano no final do século XIX.
Fotografias que contam histórias
Antes do fim da exposição que celebra o aniversário da sociedade de Geografia, há espaço para uma outra forma de arte. Em grande plano, aquela que será a capa mais célebre da publicação a nível global, com a fotografia de Steve McCurry que retrata Sharbat Gula, a eterna rapariga afegã.
Este último roteiro de “Um Século e Tanto” reúne alguns dos retratos mais importantes da história da National Geographic, que contam histórias reais, desconhecidas, como a de Matthieu Paley, fotógrafo francês que tem alguns dos seus trabalhos expostos no novo museu da Universidade do Porto. A exploração de comunidades isoladas em alguns dos locais mais recônditos do planeta trouxe a Paley, agora residente em Portugal, uma nova perspetiva sobre o mundo, que considera que a fotografia "dá uma voz através de imagens àqueles que não a têm".
Em exposição está o retrato de um estudo sobre o modo como a alimentação dos seres humanos tem evoluído ao longo dos séculos, um dos muitos que demonstra a "complexidade" das sociedades em partes específicas do mundo.

A exposição "Um Século e Tanto" pode ser visitada no MHNC-UP, no Campo dos Mártires da Pátria, até dia 19 de julho. O preço do bilhete regular é de 9€.
Esta reportagem foi um trabalho conjunto dos redatores João Malheiro e Tiago Serra Cunha, com fotografia de Sofia Matos Silva.
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