Respeito: procura-se
- Sofia Matos Silva
- 6 de dez. de 2019
- 3 min de leitura
Aliás, se a felicidade está nas pequenas coisas, o respeito pelo outro também está. Algo que grande parte da Humanidade não consegue fazer é pôr-se no lugar do outro.

O ano passado, fui ao evento anual do TEDxMatosinhos. O tema era Respeito – sim, com letra maiúscula. Durante a tarde e pela noite dentro, fui ouvindo diferentes oradores abordar as mais variadas definições de respeito.
Afinal, o respeito é isso mesmo, um nome - um substantivo masculino, um conceito abstrato que, naturalmente, terá um significado diferente para cada um de nós. O dicionário apresenta quatro definições para respeito: 1. sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém; 2. apreço, consideração, deferência; 3. acatamento, obediência, submissão; 4. medo, receio, temor.
Essas TEDTalks a que assisti conseguiram pôr o meu cérebro a remoer no assunto. Por um lado, foram inspiradoras – o seu objetivo previamente estabelecido - mas, por outro, deixaram-me preocupada.
A Talk de Tsering Paldron foi uma das que mais me marcou. A budista referiu “tal como para ti as tuas ideias são importantes, para os outros, as suas também o são; se olharmos para os outros como iguais, vivemos de forma mais harmoniosa e menos conflituosa”. A frase “põe toda a gente na mesma linha” ficou-me na cabeça. É isto que estamos a fazer?
Olho à volta, e vejo conflitos em todo o lado. Conflitos a pequena escala – uma filha a insultar a mãe no metro – e conflitos a grande escala – os “coletes amarelos” franceses, as manifestações que se estão a espalhar um pouco por todo o mundo. O Respeito é um termo… bem, respeitado, pelo mundo fora. Mas será que alguém o segue?
Acordamos de manhã, chateados porque preferíamos continuar a dormir, somos brutos para familiares ao pequeno almoço. Aceleramos porque estamos atrasados, nem deixamos aquele peão atravessar a passadeira, ou não cedemos o lugar no autocarro àquela senhora idosa, porque ainda estamos cansados. Passamos à frente na fila para o bar, resmungamos com o moço por trás do balcão porque demorou demasiado a trazer a torrada, insultamos o nosso amigo porque respirou alto. E ainda estamos a meio da manhã.
São coisas pequenas, eu sei. Mas são coisas que fazem toda a diferença. Aliás, se a felicidade está nas pequenas coisas, o respeito pelo outro também está. Algo que grande parte da Humanidade não consegue fazer é pôr-se no lugar do outro. Nós estamos cansados, mas o outro também está. Nós estamos irritados com alguma coisa, mas o outro não tem culpa. Nós temos problemas, mas, se calhar, o outro tem ainda mais, ou mais graves.
Num dos pontos altos do movimento dos "coletes amarelos", Emmanuel Macron disse ao povo francês que “onde começa a violência, acaba a liberdade”. E tem toda a razão. Os protestantes podem ter, também, toda a razão, no que reclamam e no reivindicam. Mas perdem-na mal atravessam a linha entre a luta pelos próprios direitos e o respeito pelo outro. Carros queimados, montras partidas e lojas saqueadas – onde está a legitimidade nisto? O que poderão ganhar com isto? Nada. O exagero e a adrenalina em massa levam à total perda de respeito pelo resto da população francesa. O que sentirão as pessoas que, de manhã, clicarem no comando para abrir o carro e encontrarem apenas um monte retorcido de chapa? Há quem diga que os desacatos são provocados por anarquistas infiltrados. Será?
O filme Utøya 22. juli é uma narrativa extremamente realista dos atentados levados a cabo na Noruega, em 2011. Este já é o extremo máximo da falta de respeito (se é que se pode sequer falar desta palavra neste tipo de situações; há todo um leque de “faltas de” melhor aplicadas). A questão é: porque é que os atentados terroristas já são algo “normal”? Ficamos horrorizados durante uns dias, mas rapidamente esquecemos o assunto. Como é que chegamos ao ponto em que já nem é noticiado quando mais um indivíduo não se importa de morrer, desde que leve outros consigo? Numa utopia criada por mim, nenhum ser humano teria sequer a capacidade física para poder escolher acabar com a existência de outro. O que é que aconteceu a este planeta?
Por falar em planeta, onde está o respeito pelo planeta? Este foi outro dos temas abordados no TEDxMatosinhos. António Lopes afirmou que “não podemos ficar parados”. O pior é que nós, efetivamente, não estamos parados. Estamos a mover-nos, e rapidamente, mas na direção oposta. Estamos a afundar-nos cada vez mais (figurativamente e literalmente).
Eu sei que esta parece ser uma visão muito pessimista da atualidade. Mas a verdade é que temos ainda muito a aprender no que se refere a Respeito. Se as barreiras foram ultrapassadas há muito? Sim. Mas hás sempre espaço e tempo para voltar atrás. Isto é apenas uma reflexão no assunto. Talvez um dia, quando todos refletirmos no assunto, consigamos chegar lá.
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